Um querido amigo me enviou um exemplar do jornal "Valor" Ano 10 nº 454. Há um artigo muito interessante escrito por Paula Montero, professora titular da USP. O artigo é um comentário sobre o livro "Feridos em Nome de Deus" escrito por Marília de Camargo César (Editora Mundo Cristão). Penso que a leitura pode nos ajudar muito na reflexão sobre o perfil da maioria das instituições religiosas evangélicas em nosso pais.
Eis o artigo.
"O livro de Marília de Camargo César se apresenta como uma reportagem sobre pessoas que foram desiludidas por seus pastores evangélicos. Nos seis casos que dão sustentação à sua narrativa, podemos perceber características em comum. Com exceção da experiência de Sandra, pastora de origem simples que consegue ganhar projeção e adeptos em outras classes, as histórias privilegiam jovens profissionais com formação universitária e futuro promissor que, após crise pessoal, abandonam o emprego e passam a dedicar-se aos trabalhos da igreja sem receber, em contrapartida, o reconhecimento do pastor e a ascensão esperada na carreira religiosa.
O livro expressa a cisão que aflige o evangelismo brasileiro, separando os protestantes históricos - batistas, presbiterianos e calvinistas - e os pentecostais e neopentecostais. Em quase todos os casos os personagens têm formação religiosa mais tradicional, na qual a salvação depende do perseverar em uma vida íntegra, e foram em busca de uma religiosidade mais alegre e emocional, em que encontraram provisoriamente conforto para suas emoções. A questão que move o relato é a perplexidade da autora diante do fato de que pessoas de boa formação e capazes de espírito crítico se tenham colocado nas mãos de pastores pentecostais, abandonando a autonomia pessoal.
Para responder a ela, o texto recorre a vozes de numerosos especialistas, preponderantemente teólogos e pastores, todos "escolhidos por sua boa reputação", esclarece a autora, e ligados ao protestantismo histórico. O que é interessante nos relatos desses experts é a tentativa de construir uma figura parajurídica para definir o que fazem os pastores pentecostais: o "abuso espiritual". Espelhado na categoria jurídica de "assédio moral", o "abuso espiritual" é definido como "o encontro de uma pessoa forte com uma fraca, em que a forte usa o nome de Deus para influenciar a fraca e levá-la a tomar decisões que acabam por diminuí-la física, material ou emocionalmente".
Na prática, isso significa devoção e obediência sem questionamentos ao pastor e ser manipulado para doar bens e valores ou trabalho sem contrapartida. Está implícita nessa definição que seria necessário regular os limites éticos dessas doações como fazem as empresas.
Na tentativa de compreender por que o pentecostalismo, apesar disso, se expande em todas as camadas sociais, em detrimento do protestantismo histórico, os teólogos apontam para seus aspectos mágicos e proféticos. Para o pastor Ed René Kivitz, que dirige a Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, em muitas igrejas pentecostais os pastores se tomam por profetas, mediadores entre os homens e Deus. A atmosfera mística dos cultos, com pregações contundentes e orações em línguas estranhas, estimula essa percepção. Com certa acuidade, Kivitz percebe que o pentecostalismo e, em seguida, o neopentecostalismo "abrasileiraram" o protestantismo histórico; o pentecostalismo recuperou o profetismo que alimentou tantos movimentos religiosos desde o fim do século XIX no Brasil, atraindo, assim, egressos do catolicismo; em um segundo momento, o neopentecostalismo se apropriou das forças mágicas das religiões afro-brasileiras e fez do exorcismo e da possessão elementos centrais dos rituais de cura, atraindo pessoas de todos os horizontes.
Nesse sentido, essas igrejas são uma pedra no sapato dos protestantes históricos: envergonham uma fé orientada para a autonomia individual, boa formação teológica de pastores e fieis e, sobretudo, para uma leitura da "Bíblia" sem intermediários da palavra. Ressentem-se com o fato de que a carreira de pastor virou sinônimo de oportunismo e picaretagem.
O mais interessante aqui é que, na tentativa de formular uma figura jurídica que possa ser útil para impor regras que controlem a autonomia religiosa desses pastores, lançam mão de categorias que o Estado brasileiro e a Igreja Católica usaram para criminalizar as práticas de cura de feiticeiros e pais de santo até o século XX: idolatria, falsa doutrina, fanatismo e charlatanismo. Com o tempo, essas práticas foram aceitas como parte da cultura brasileira e de sua variedade religiosa. Por que, então, os pentecostais incomodam? Não há aqui resposta simples. Mas é claro que a associação entre misticismo, magia e meios sofisticados de comunicação engendrou poderosa máquina de arrecadação financeira. E nossa tradição católica ensinou que dinheiro e religião não combinam. Seu relato esclarece, em parte, uma tendência já bem consolidada pelos estudiosos do tema: a desinstitucionalização da religião."
Muito bom seu Blog....utilizando tudo pra honrar a Deus...e pra que as pessoas se sintam motivadas a conhecer mais e mais da beleza que é andar no caminho dEle!
ResponderExcluirOtima matéria, me interessei pela leitura desse livro. Precisamos abrir os olhos hoje, para que o processo de secularização e abandono da fé não se torne um ciclo e não aconteça no Brasil o que está acontecendo hoje na Europa. Infelizmente essa "bagunça religiosa" tem direcionado o Brasil para tal secularização. Forte abraço. Flavio Gomide.
ResponderExcluirGraça e Paz Pastor Ricardo.. muito bom esse artigo... dá para ter ideia como o livro é bem escrito e é de bom ser lido.
ResponderExcluirparabéns pelo blog é mais uma ferramenta para glorificamos o NOME do Senhor Jesus.
abraços
fernanda beraldo
Pastor Ricardo, artigos muito importante para nós crentes, e firmarmos na nossa fé sem nos deixar levar por modismos criados para nos tentar desviar do verdadeiro "caminho". Parabens pelo blog. Vou acessá-lo sempre. Abraços.
ResponderExcluirMarcos Gilberto Teixeira
Parabéns Pastor, muito bom o seu blog.Ja está nos meu favoritos.(rsrs)
ResponderExcluirPediremos a Deus, que continue usando o Sr.
Deus te abençõe!!!
Saudades!!! Familia Araújo/Uberaba/MG.