segunda-feira, 29 de junho de 2009

O ABUSO ESPIRTUAL EM IGREJAS EVANGÉLICAS


Um querido amigo me enviou um exemplar do jornal "Valor" Ano 10 nº 454. Há um artigo muito interessante escrito por Paula Montero, professora titular da USP. O artigo é um comentário sobre o livro "Feridos em Nome de Deus" escrito por Marília de Camargo César (Editora Mundo Cristão). Penso que a leitura pode nos ajudar muito na reflexão sobre o perfil da maioria das instituições religiosas evangélicas em nosso pais.
Eis o artigo.
"O livro de Marília de Camargo César se apresenta como uma reportagem sobre pessoas que foram desiludidas por seus pastores evangélicos. Nos seis casos que dão sustentação à sua narrativa, podemos perceber características em comum. Com exceção da experiência de Sandra, pastora de origem simples que consegue ganhar projeção e adeptos em outras classes, as histórias privilegiam jovens profissionais com formação universitária e futuro promissor que, após crise pessoal, abandonam o emprego e passam a dedicar-se aos trabalhos da igreja sem receber, em contrapartida, o reconhecimento do pastor e a ascensão esperada na carreira religiosa.
O livro expressa a cisão que aflige o evangelismo brasileiro, separando os protestantes históricos - batistas, presbiterianos e calvinistas - e os pentecostais e neopentecostais. Em quase todos os casos os personagens têm formação religiosa mais tradicional, na qual a salvação depende do perseverar em uma vida íntegra, e foram em busca de uma religiosidade mais alegre e emocional, em que encontraram provisoriamente conforto para suas emoções. A questão que move o relato é a perplexidade da autora diante do fato de que pessoas de boa formação e capazes de espírito crítico se tenham colocado nas mãos de pastores pentecostais, abandonando a autonomia pessoal.
Para responder a ela, o texto recorre a vozes de numerosos especialistas, preponderantemente teólogos e pastores, todos "escolhidos por sua boa reputação", esclarece a autora, e ligados ao protestantismo histórico. O que é interessante nos relatos desses experts é a tentativa de construir uma figura parajurídica para definir o que fazem os pastores pentecostais: o "abuso espiritual". Espelhado na categoria jurídica de "assédio moral", o "abuso espiritual" é definido como "o encontro de uma pessoa forte com uma fraca, em que a forte usa o nome de Deus para influenciar a fraca e levá-la a tomar decisões que acabam por diminuí-la física, material ou emocionalmente".
Na prática, isso significa devoção e obediência sem questionamentos ao pastor e ser manipulado para doar bens e valores ou trabalho sem contrapartida. Está implícita nessa definição que seria necessário regular os limites éticos dessas doações como fazem as empresas.
Na tentativa de compreender por que o pentecostalismo, apesar disso, se expande em todas as camadas sociais, em detrimento do protestantismo histórico, os teólogos apontam para seus aspectos mágicos e proféticos. Para o pastor Ed René Kivitz, que dirige a Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, em muitas igrejas pentecostais os pastores se tomam por profetas, mediadores entre os homens e Deus. A atmosfera mística dos cultos, com pregações contundentes e orações em línguas estranhas, estimula essa percepção. Com certa acuidade, Kivitz percebe que o pentecostalismo e, em seguida, o neopentecostalismo "abrasileiraram" o protestantismo histórico; o pentecostalismo recuperou o profetismo que alimentou tantos movimentos religiosos desde o fim do século XIX no Brasil, atraindo, assim, egressos do catolicismo; em um segundo momento, o neopentecostalismo se apropriou das forças mágicas das religiões afro-brasileiras e fez do exorcismo e da possessão elementos centrais dos rituais de cura, atraindo pessoas de todos os horizontes.
Nesse sentido, essas igrejas são uma pedra no sapato dos protestantes históricos: envergonham uma fé orientada para a autonomia individual, boa formação teológica de pastores e fieis e, sobretudo, para uma leitura da "Bíblia" sem intermediários da palavra. Ressentem-se com o fato de que a carreira de pastor virou sinônimo de oportunismo e picaretagem.
O mais interessante aqui é que, na tentativa de formular uma figura jurídica que possa ser útil para impor regras que controlem a autonomia religiosa desses pastores, lançam mão de categorias que o Estado brasileiro e a Igreja Católica usaram para criminalizar as práticas de cura de feiticeiros e pais de santo até o século XX: idolatria, falsa doutrina, fanatismo e charlatanismo. Com o tempo, essas práticas foram aceitas como parte da cultura brasileira e de sua variedade religiosa. Por que, então, os pentecostais incomodam? Não há aqui resposta simples. Mas é claro que a associação entre misticismo, magia e meios sofisticados de comunicação engendrou poderosa máquina de arrecadação financeira. E nossa tradição católica ensinou que dinheiro e religião não combinam. Seu relato esclarece, em parte, uma tendência já bem consolidada pelos estudiosos do tema: a desinstitucionalização da religião."

5 comentários:

  1. Muito bom seu Blog....utilizando tudo pra honrar a Deus...e pra que as pessoas se sintam motivadas a conhecer mais e mais da beleza que é andar no caminho dEle!

    ResponderExcluir
  2. Otima matéria, me interessei pela leitura desse livro. Precisamos abrir os olhos hoje, para que o processo de secularização e abandono da fé não se torne um ciclo e não aconteça no Brasil o que está acontecendo hoje na Europa. Infelizmente essa "bagunça religiosa" tem direcionado o Brasil para tal secularização. Forte abraço. Flavio Gomide.

    ResponderExcluir
  3. Graça e Paz Pastor Ricardo.. muito bom esse artigo... dá para ter ideia como o livro é bem escrito e é de bom ser lido.
    parabéns pelo blog é mais uma ferramenta para glorificamos o NOME do Senhor Jesus.
    abraços
    fernanda beraldo

    ResponderExcluir
  4. Pastor Ricardo, artigos muito importante para nós crentes, e firmarmos na nossa fé sem nos deixar levar por modismos criados para nos tentar desviar do verdadeiro "caminho". Parabens pelo blog. Vou acessá-lo sempre. Abraços.

    Marcos Gilberto Teixeira

    ResponderExcluir
  5. Parabéns Pastor, muito bom o seu blog.Ja está nos meu favoritos.(rsrs)
    Pediremos a Deus, que continue usando o Sr.
    Deus te abençõe!!!
    Saudades!!! Familia Araújo/Uberaba/MG.

    ResponderExcluir