terça-feira, 30 de junho de 2009

O NOIVO, A NOIVA E SUA(S) AMIGA(S)

É muito honroso servir às pessoas, instruindo-as sobre o Grande Valor da Vida. A vida é um dom de Deus e entender o propósito da nossa existência é a grande tarefa. Isto porque, entender o propósito da vida tem implicações eternas. Todavia, a religião, embora na maioria das vezes bem intencionada, acaba barateando a Graça e o Amor de Deus e exagerando em coisas não importantes. A religião pode gerar um "peso",uma sobrecarga que não glorifica o nome do Senhor, Criador do céu e da Terra.
Uma metáfora pode ajudar a entender o que flui de minha mente. Pensemos na Igreja como a Noiva de Cristo. O Noivo está fisicamente ausente. A Noiva O espera para o dia do casamento. Ela sabe que Ele a ama. Ele sempre deu provas do Seu amor. Ela tem a palavra empenhada do Noivo. Sabe que Ele é fiel e que cumprirá cada uma de suas promessas. Ela O aguarda. O grande desafio da Noiva é manter-se fiel ao seu Noivo. Ela, muito bonita, não deixa de sofrer assédios de toda sorte. Faz parte!A noiva vai se adornando enquanto espera o dia do casamento. A noiva precisa se manter firme, trazendo à sua mente e coração, todo o sentimento que a une ao seu Noivo. O tempo pode se transformar em um inimigo cruel. Vozes ressoam dizendo coisas absurdas como, por exemplo, o "noivo não vai voltar", ou "não vale a pena esperá-lo...". Lutas internas e externas caracterizam os dias da Noiva. Enquanto espera, a noiva vai se adornando. Comprando coisas não tão úteis para a vida futura. O acúmulo das especiarias é notório. Coisas fúteis, manias e modismos vão sendo absorvidos em decorrência de ansiedade. A Noiva está tão adornada que, talvez nem ela mesma percebe que está se descaracterizando. Dá a entender que, se o Noivo demorar muito, Ele terá dificuldade em reconhecê-la. O que fazer? Entendo que duas coisas fundamentais são necessárias e urgentes. A primeira é exortá-la para que todas as vozes ao seu redor sejam ignoradas. A Noiva deve oferecer-se como uma espécie de "sacrifício vivo" ao seu noivo, ainda que fisicamente longe. Em segundo lugar ela não pode entrar no "esquema" conformando-se com os costumes da presente época. Para não viver de forma alienada, ela deve buscar, de forma ativa, a transformação do meio onde está, sem nenhuma utopia ou otimismo exagerado. Ela deve buscar transformação por uma questão vocacional, cumprindo aquilo que o Noivo determinou durante o tempo em que Ele estaria "ausente". A igreja é a noiva. Igreja não é a mesma coisa que religião ou instituição religiosa. Igreja é Corpo, o Corpo de Cristo. A instituição religiosa pode ser um instrumento valioso para a Igreja, desde que se coloque no seu devido lugar. A religião é apenas a amiga da noiva. Não é o que temos visto. A "amiga da noiva" pensa de si, mais do que convém. Os aspectos mágicos e proféticos dominam o modo de ver da "amiga". A amiga ou as amigas, não foram sempre assim. Para que a "amiga da noiva" seja uma bênção para a Noiva seria necessário uma mudança radical. Para muitos a ‘amiga da noiva’ é o mesmo que oportunismo e picaretagem. Será que alguém tem coragem de dizer o contrário? O que no passado a amiga da noiva condenava como charlatanismo, fanatismo, falsas doutrinas, manipulação, idolatria, e outros agora se revela não apenas tolerante mas cúmplice.
Bom, tenho uma tese. Eu penso que se a amiga da noiva não ajudar e continuar a influenciar a Noiva para o que é negativo, o Noivo terá de demiti-la, mesmo estando ainda longe.

Penso que, como "amiga da noiva", devemos ajudá-la a se despir de "ornamentos" fúteis e se preocupar em fortalecer os "fundamentos" necessários.
O que de fato é importante? O que é fundamental e necessário?
Uma re-ligação com o Noivo, Seus princípios já ensinados e propósitos estabelecidos devem se buscados.

Ricardo Mota

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O ABUSO ESPIRTUAL EM IGREJAS EVANGÉLICAS


Um querido amigo me enviou um exemplar do jornal "Valor" Ano 10 nº 454. Há um artigo muito interessante escrito por Paula Montero, professora titular da USP. O artigo é um comentário sobre o livro "Feridos em Nome de Deus" escrito por Marília de Camargo César (Editora Mundo Cristão). Penso que a leitura pode nos ajudar muito na reflexão sobre o perfil da maioria das instituições religiosas evangélicas em nosso pais.
Eis o artigo.
"O livro de Marília de Camargo César se apresenta como uma reportagem sobre pessoas que foram desiludidas por seus pastores evangélicos. Nos seis casos que dão sustentação à sua narrativa, podemos perceber características em comum. Com exceção da experiência de Sandra, pastora de origem simples que consegue ganhar projeção e adeptos em outras classes, as histórias privilegiam jovens profissionais com formação universitária e futuro promissor que, após crise pessoal, abandonam o emprego e passam a dedicar-se aos trabalhos da igreja sem receber, em contrapartida, o reconhecimento do pastor e a ascensão esperada na carreira religiosa.
O livro expressa a cisão que aflige o evangelismo brasileiro, separando os protestantes históricos - batistas, presbiterianos e calvinistas - e os pentecostais e neopentecostais. Em quase todos os casos os personagens têm formação religiosa mais tradicional, na qual a salvação depende do perseverar em uma vida íntegra, e foram em busca de uma religiosidade mais alegre e emocional, em que encontraram provisoriamente conforto para suas emoções. A questão que move o relato é a perplexidade da autora diante do fato de que pessoas de boa formação e capazes de espírito crítico se tenham colocado nas mãos de pastores pentecostais, abandonando a autonomia pessoal.
Para responder a ela, o texto recorre a vozes de numerosos especialistas, preponderantemente teólogos e pastores, todos "escolhidos por sua boa reputação", esclarece a autora, e ligados ao protestantismo histórico. O que é interessante nos relatos desses experts é a tentativa de construir uma figura parajurídica para definir o que fazem os pastores pentecostais: o "abuso espiritual". Espelhado na categoria jurídica de "assédio moral", o "abuso espiritual" é definido como "o encontro de uma pessoa forte com uma fraca, em que a forte usa o nome de Deus para influenciar a fraca e levá-la a tomar decisões que acabam por diminuí-la física, material ou emocionalmente".
Na prática, isso significa devoção e obediência sem questionamentos ao pastor e ser manipulado para doar bens e valores ou trabalho sem contrapartida. Está implícita nessa definição que seria necessário regular os limites éticos dessas doações como fazem as empresas.
Na tentativa de compreender por que o pentecostalismo, apesar disso, se expande em todas as camadas sociais, em detrimento do protestantismo histórico, os teólogos apontam para seus aspectos mágicos e proféticos. Para o pastor Ed René Kivitz, que dirige a Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, em muitas igrejas pentecostais os pastores se tomam por profetas, mediadores entre os homens e Deus. A atmosfera mística dos cultos, com pregações contundentes e orações em línguas estranhas, estimula essa percepção. Com certa acuidade, Kivitz percebe que o pentecostalismo e, em seguida, o neopentecostalismo "abrasileiraram" o protestantismo histórico; o pentecostalismo recuperou o profetismo que alimentou tantos movimentos religiosos desde o fim do século XIX no Brasil, atraindo, assim, egressos do catolicismo; em um segundo momento, o neopentecostalismo se apropriou das forças mágicas das religiões afro-brasileiras e fez do exorcismo e da possessão elementos centrais dos rituais de cura, atraindo pessoas de todos os horizontes.
Nesse sentido, essas igrejas são uma pedra no sapato dos protestantes históricos: envergonham uma fé orientada para a autonomia individual, boa formação teológica de pastores e fieis e, sobretudo, para uma leitura da "Bíblia" sem intermediários da palavra. Ressentem-se com o fato de que a carreira de pastor virou sinônimo de oportunismo e picaretagem.
O mais interessante aqui é que, na tentativa de formular uma figura jurídica que possa ser útil para impor regras que controlem a autonomia religiosa desses pastores, lançam mão de categorias que o Estado brasileiro e a Igreja Católica usaram para criminalizar as práticas de cura de feiticeiros e pais de santo até o século XX: idolatria, falsa doutrina, fanatismo e charlatanismo. Com o tempo, essas práticas foram aceitas como parte da cultura brasileira e de sua variedade religiosa. Por que, então, os pentecostais incomodam? Não há aqui resposta simples. Mas é claro que a associação entre misticismo, magia e meios sofisticados de comunicação engendrou poderosa máquina de arrecadação financeira. E nossa tradição católica ensinou que dinheiro e religião não combinam. Seu relato esclarece, em parte, uma tendência já bem consolidada pelos estudiosos do tema: a desinstitucionalização da religião."

CONVITE ESPECIAL