quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ANGÚSTIA, DISCIPLINA E OPRÓBRIO


Por Ricardo Mota

Eliaquim, o mordomo, Sebna, o escrivão e alguns sacerdotes idosos foram se encontrar com o profeta Isaías. Tais homens foram ao encontro do homem de Deus conforme ordem do rei Ezequias. Ezequias foi um bom rei, promovendo verdadeiras reformas religiosas. Dentre elas, fez em pedaços, a serpente de bronze que Moisés fizera e que se transformara em objeto de culto pelo povo. A serpente-deus recebeu o nome de Neustã (pedaço de bronze). O rei Ezequias reinou de 716 a.C até 687 a.C. e teve o privilégio de ser contemporâneo do profeta Isaías. Privilégio sim, o profeta Isaías foi um profeta messiânico cuja mensagem profética enfatizava a santidade de Deus. O profeta falava do Senhor como o “Santo de Israel” que requer antes e acima das formalidades da adoração por sacrifícios, o sacrifício vivo de uma vida piedosa.
O profeta Isaías tinha sido odiado pelo rei Acaz, mas, agora, favorecido pela amizade e respeito do rei Ezequias recebeu a visita de Eliaquim, Sebna e alguns sacerdotes. Eles traziam um recado dizendo: “Este dia é dia de angústia, de disciplina, e de opróbrio; porque filhos são chegados à hora de nascer, e não há força para dá-los à luz.” (2 Reis 19.3) . Ezequias se referia às ameaças do rei assírio que, por boca de Rabsaqué, afrontou o rei, a nação e o próprio Deus. Teria Deus ouvido as palavras de Rabsaqué, a quem o rei da Assíria, seu senhor, enviou para afrontar o Deus vivo?
Este questionamento é comum quando enfrentamos situações adversas. Estaria Deus vendo, ouvindo ou sentindo o que temos passado?
“Dia de angústia” uma realidade emocional. A angústia é uma sensação psicológica caracterizada pelo abafamento. É como ter o coração pisado, oprimido. Angústia é considerada pela psiquiatria moderna como doença que produz problemas psicossomáticos. Ou seja, sintomas de doenças graves aparecem sem, de fato, uma comprovação médica. Os sintomas estão ali, mas, a doença propriamente dita, às vezes, não.
“Dia de disciplina” uma realidade espiritual. O rei sabia que espiritualmente a situação não era confortável. Seu povo era passivo de repreensão. Quando se vive uma instabilidade espiritual, qualquer coisa que acontece, tem tons de repreensão, de castigo ou de disciplina. Havia a consciência de que Deus deveria disciplinar um povo que tinha tendência forte para a infidelidade. O dia da disciplina não é muito agradável, mas, necessário.
“Dia de opróbrio” uma realidade social. Aquela situação era de vergonha nacional. O rei assírio humilhou consideravelmente a nação judia. Para fazer calar profundamente a ofensa, o rei pagão ofendeu o Deus daquela nação. O rei assírio comparou Deus com os demais deuses das nações que ele havia conquistado como os deuses de Gozâ, Harã, Rezete e outros.
A metáfora é bem usada pelo rei Ezequias. O povo era com uma mulher grávida cujo momento do parto chegara, mas ela estava tão fraca fisicamente, que não tinha força para dar à luz. O que fazer?
PRIMEIRO – É importante saber e crer que Deus sabe de todas as coisas, ouve a todos e tem controle de tudo. Crer em tais verdades afugenta o medo que invade a alma. Somente Deus pode dizer com toda autoridade: “não tenha medo...” (2 Reis 19.5). A angústia dará lugar à paz quando a Palavra de Deus achar lugar no coração. Em diversos textos bíblicos, especialmente nos cânticos do salmista Davi, encontramos a “receita” contra a angústia. “No dia da minha angústia, clamo a ti, porque me respondes.” (Salmos 86:7; 107:6, 28; 107:13, 19; 119:143; 120.1). Não é simplismo religioso, é o caminho da solução. Quando o rei Ezequias recebeu a afronta por escrito do rei assírio Senaqueribe, subiu ao templo estendeu-a perante o Senhor e orou dizendo: “Ó SENHOR, Deus de Israel, que estás entronizado acima dos querubins, tu somente és o Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra. Inclina, ó SENHOR, o ouvido e ouve; abre, SENHOR, os olhos e vê; ouve todas as palavras de Senaqueribe, as quais ele enviou para afrontar o Deus vivo. Verdade é, SENHOR, que os reis da Assíria assolaram todas as nações e suas terras e lançaram no fogo os deuses deles, porque deuses não eram, senão obra de mãos de homens, madeira e pedra; por isso, os destruíram. Agora, pois, ó SENHOR, nosso Deus, livra-nos das suas mãos, para que todos os reinos da terra saibam que só tu és o SENHOR Deus.” (2 Reis 19.15-19).
O temor de Deus existente no coração do rei Ezequias fez toda a diferença. Ele cria no relacionamento com Deus por meio da oração. Junto com a consulta feita ao profeta Isaías ele acrescentou: “... ergue, pois, orações pelos que ainda subsistem.” (2 Reis 19.4).

SEGUNDO – A disciplina que Deus exerce sobre seus filhos tem um fim proveitoso. A repreensão de Deus aos seus tem o propósito de despertar para a santidade. Deus mandou dizer ao rei Ezequias que a sua oração foi ouvida e que Ele mesmo trataria com o rei Senaqueribe. Segundo Deus, o rei assírio ofendeu e alçou a voz e, arrogantemente ergueu os olhos contra o Santo de Israel. Deus é Santo e requer do seu povo a santidade. O dia da disciplina pode ser um dia difícil, mas, necessário. Uma das característica de nossa filiação divina é a correção. “Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos.” (Hebreus 12.8). E ainda: “Filho meu, não rejeites a disciplina do SENHOR, nem te enfades da sua repreensão.” (Provérbios 3:11). “Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus. (Deuteronômio 8:5). “Bem-aventurado é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois, a disciplina do Todo-Poderoso.” (Jó 5:17).

TERCEIRO – Se a angústia é uma realidade pessoal e a disciplina, uma realidade espiritual, o opróprio ou a vergonha podem ter amplitudes sociais. Não somos seres isolados. Estamos inseridos em um contexto social. Nossa angústia ou crise espiritual tem reflexos coletivos. Toda a nação estava comprometida com aquela situação vivida na época do profeta Isaías. A sequência de perversidade de rebeldia contra Deus levou o povo ao desprezo dando ao inimigo oportunidade de ofender o próprio Deus. A Bíblia é claro sobre o caminho que percorre o opróbio: “Vindo a perversidade, vem também o desprezo; e, com a ignomínia, a vergonha.” (Provérbios 18:3).
Aquele dia foi um dia de vergonha de humilhação para o povo de Deus. A tristeza sentida pelo rei, o profeta e o povo, os levou ao reconhecimento de sua total debilidade. O resultado de uma experiência tal como aquela é muito bom. Uma tristeza nacional, uma vergonha total poderia ser instumento para um verdadeiro avivamento espiritual. “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.” (2 Coríntios 7:10).
A experiência vivida pelo rei Ezequias, seu povo e seu amigo profeta pode nos ajudar muito ainda hoje. Quando nos sentirmos angustiados, disciplinados ou, até mesmo, envergonhados haverá uma solução se nos voltarmos para Deus. Ele se identifica conosco. Se Ele é o nosso Deus, nunca viveremos isoladamente nossas experiências.
A derrocada total se instala quando não se sabe o caminho. Quando não se sabe ou não se deseja buscar a Deus. O rei Ezequias foi à Casa de Deus, se dobrou na presença Dele, buscou conselho do profeta, pediu oração e contemplou a vitória do Senhor. Posteriormente, Ezequias soube das palavras reveladoras de Deus dirigidas ao rei assírio : “Por acaso, você não sabe que fui eu que planejei tudo isso há muito tempo e agora fiz tudo acontecer? Eu dei a você o poder de fazer cidades cercadas de muralhas virarem montões de entulho. Por isso, os seus moradores ficaram fracos e andavam cheios de medo e de vergonha. Eles ficaram como o capim do campo e a erva verde e como a erva que cresce nos telhados, quando o vento quente do leste sopra e os faz secar. Mas eu o conheço muito bem; sei o que você faz e aonde vai. Sei que você me odeia. Eu soube do seu ódio e do seu orgulho, e agora vou pôr uma argola no seu nariz e um freio na sua boca, e farei você voltar pelo mesmo caminho por onde veio.” (2 Reis 19.25-28). Diante de um Deus assim, vivo e verdadeiro devemos nos prostrar e adorar. Há solução para a angústia, a disciplina e o opróbio para aqueles que sabem o caminho.

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