quarta-feira, 1 de julho de 2009

PIB X FIB: Uma Nova Medida de Felicidade

Dra. Susan Andrews*

Na última década, um número cada vez maior de cientistas tem se esforçado para decifrar os segredos da felicidade. Uma nova disciplina, chamada de "ciência da hedônica" vem sendo desenvolvida. A palavra "hedônica" foi cunhada pelo psicólogo Daniel Kahneman, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002. Esse termo denota a pesquisa científica quanto às fontes da felicidade humana.

De acordo com esses estudos, o sucesso material, até certo grau de riqueza, de fato traz mais felicidade. Por exemplo, quando uma pessoa progride de um estado de absoluta pobreza para o atendimento de suas necessidades de sobrevivência, e desse nível de sobrevivência para uma vida confortável e, depois, para algum grau de luxo, sua felicidade de fato aumenta. Contudo, depois de certo ponto, mais bens materiais não trazem mais satisfação. O que importa a essa altura são os chamados "fatores não materiais", tais como companheirismo, famílias harmoniosas, relacionamentos amorosos e uma sensação de viver uma vida com significado. Nós, seres humanos, temos fome não apenas de alimento para o corpo, mas também para a alma.

Um pequeno país nos Himalaias, o Butão, desenvolveu um novo modelo para o progresso que está criando impacto inesperado no mundo: o FIB – Felicidade Interna Bruta – ao invés do PIB (Produto Interno Bruto). Trata-se de um sofisticado conjunto de índices para medir as nove dimensões de desenvolvimento integral: bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, boa saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gestão equilibrada do tempo e bem-estar psicológico.

Indaga o primeiro-ministro do Butão, Lyonpo J. Thinley: "Será que o sucesso de uma nação deve ser avaliado pela sua habilidade de produzir e consumir ou pela qualidade de vida e a felicidade do seu povo? A felicidade é mais importante do que a riqueza monetária", enfatiza. Psicólogos pesquisadores da nova ciência de "hedônica" concordariam com isso. Dezenas de estudos têm demonstrado que, a partir de um certo nível de renda, mais riqueza não traz felicidade. Os EUA são um bom exemplo. O PIB americano aumentou três vezes nos últimos 50 anos, mas a felicidade do povo declinou. Durante esse mesmo período, quando o PIB triplicou, o número de divórcios duplicou, o de suicídios entre adolescentes triplicou, o de crimes violentos quadruplicou e a população carcerária quintuplicou.

Curiosamente, foi um norte-americano célebre, o ex-senador Robert F. Kennedy, quem expressou mais eloquentemente as deficiências desse que é hoje o principal indicador mundial de progresso: "O Produto Interno Bruto inclui poluição atmosférica e as ambulâncias para uma tragédia; trancas especiais para nossas portas e prisões para as pessoas que as quebram. Inclui a destruição das nossas florestas e a morte dos nossos lagos. Cresce com a produção de mísseis e ogivas nucleares. Não inclui a saúde das nossas famílias, a qualidade da educação das nossas crianças, ou a alegria das suas brincadeiras. É indiferente à segurança das nossas ruas. Não inclui, tampouco, a beleza da nossa arte, a estabilidade dos nossos casamentos nem a integridade dos nossos governantes. Mede tudo, em suma, exceto aquilo que faz a vida valer à pena".

*Susan Andrews é psicóloga e antropóloga pela Universidade de Harvard – EUA, Doutorada em Psicologia Transpessoal pela Universidade de Greenwich (EUA) e autora de diversos livros.

Fonte: seuEstilo, Abril 2009, Ano 3, nr. 24

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